João Bosco e o jazz
O Birdland Jazz Club colocou mais um retrato em sua parede decorada com imagens de celebridades do jazz. O cantor brasileiro João Bosco é mais um músico que foi imortalizado na galeria de um dos clubes de jazz mais relevantes do mundo.
Bosco está realizando shows no clube. Haverá um total de dez, que vai do dia 4 ao dia 8 de junho - duas apresentações por noite -, segundo o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo. O músico está fazendo uma turnê nos EUA. Antes do prestigiado clube de jazz, ele já havia realizado shows lotados em Miami e em Washington. A coluna ainda informa que a foto do retrato foi tirada em 2018, durante uma apresentação no Birdland.
Para se ter noção da importância de ter um retrato colocado na parede do Birdland, basta ver quais outros músicos estão ou estiveram na galeria. O Globo menciona Ron Carter e Ella Fitzgerald, mas podemos citar Dizzy Gillespie, Bud Powell, Sid Torin, Charlie “Bird” Parker e tantos outros. Aliás, o clube recebeu esse nome (“Birdland”) em homenagem a Parker, “considerado o maior gênio do bebop [um gênero de jazz]”, segundo o jornalista François Billard, na obra “No mundo do Jazz”.
No mesmo livro, Billard descreve a importância histórica do Birdland Jazz Club. O autor menciona uma citação do produtor de jazz Ross Russell, que descreveu o clube como “novo templo do jazz na Broadway, que iria eclipsar todos os outros”. Quando Russell diz "novo", ele se referia ao surgimento do Birdland, precisamente em 15 de dezembro de 1949.
Russell também descreve o espaço físico: “tinha dimensões impressionantes. Uma escada com passadeira descia da rua a um primeiro nível, onde estavam instalados o vestiário e o caixa. Alguns degraus suplementares levavam à sala, com capacidade para quatrocentas pessoas. O palco era bastante espaçoso para uma grande orquestra, e havia um piano novo em folha. As paredes eram decoradas com retratos ampliados das celebridades do jazz”.
Podemos chamar esse Birdland descrito por Russell como o “original”, que se localizava no número 1678 da Broadway, perto da Rua 53. No entanto, o clube faliu em 1964 e foi fechado em 1965. O atual Birdland renasceu em 1985, primeiro no número 2745 da Broadway - de 1985 a 1996. Depois na 315 West 44th Street, entre a 8ª e a 9ª avenidas, onde o Birdland está estabelecido desde 1996 até os dias atuais.
O retrato de Bosco está na galeria desse “novo” Birdland, o que indica seu reconhecimento internacional, inclusive no contexto do jazz norte-americano. O músico brasileiro já havia participado do álbum "Festival", lançado em 1988 pelo guitarrista de jazz Lee Ritenour. Isso o fez ser conhecido pelos amantes de jazz dos Estados Unidos.
Além disso, o cantor brasileiro foi influenciado por figuras proeminentes do gênero. O site All About Jazz informa que, enquanto frequentava o curso de engenharia na Universidade Federal de Ouro Preto, Bosco “mergulhou no jazz americano (principalmente Miles Davis) e no som da Bossa Nova de João Gilberto e Antonio Carlos Jobim. Foi também na universidade que ele conheceu o letrista Vinicius de Moraes, que contribuiu com suas letras elegantes e poéticas à música de Bosco”.
Em entrevista ao Matinal Jornalismo, Bosco citou alguns discos que “fizeram parte da minha formação musical com bastante expressividade”: “Você ainda não ouviu nada!”, de Sergio Mendes; “Coisas”, de Moacir Santos; “The Composer of Desafinado Plays”, de Tom Jobim; “Time Out” e “Time Further Out”, do Dave Brubeck Quartet.
Na mesma entrevista, Bosco mencionou o conceito de “síntese”, que ele aprendeu com o jazz. Esse termo é definido pelo dicionário como: “método, processo ou operação que consiste em reunir elementos diferentes, concretos ou abstratos, e fundi-los num todo coerente”. Ou seja, o jazz o ensinou: a combinar elementos estilísticos, técnicos e culturais; a combinar gêneros musicais distintos; e a integrar técnicas instrumentais, rítmicas e harmônicas, com uso frequente do improviso.
Bosco até cita a canção “So What”, que é a primeira faixa de Kind of Blue, de Miles Davis, um álbum considerado um clássico do jazz. So What é um exemplo brilhante de síntese no jazz, conhecido por combinar influências e técnicas variadas, além de servir como exemplo de modal jazz, que se baseia em escalas modais, permitindo maior liberdade para improvisação.
“Penso que esse processo de dissecar os temas musicais é uma forma de experimentar os limites do mesmos”, diz Bosco, ao Matinal Jornalismo. “O jazz não nos deixa acomodar com a forma original da música, ao contrário, nos deixa inquietos a explorar seus limites”.
Essa perspectiva é uma das grandes evidências de que Bosco merece mesmo ter seu retrato ao lado de fotografias de grandes músicos de jazz.
Roni Pereira, jornalista residente em Salvador/BA
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